sábado, 3 de maio de 2014

Bulling: lições de vida

b2f42286-b464-4a0f-8447-302d799e81e1
 O termo pode ser relativamente recente, mas o fenômeno é um velho conhecido. Você sofria bullying quando ia à escola? Talvez no condomínio, no clube, ou em qualquer lugar longe da supervisão de adultos onde as crianças mais explosivas davam asas à malvadeza infernizando a vida de outras?
Para os que costumavam ser o lado oprimido dessa relação, um escritor finlandês resumiu suas próprias experiências em cinco lições que, segundo ele, foram carregadas para o resto da vida. Confira a lista:

5. Não existe pessoa menos vulnerável ao bullying

Em uma sala de aula, havia alguns tipos clássicos que a sociedade já não aceitava logo de cara. Estes pareciam, aos olhos da massa, estar pedindo para sofrerem nas mãos da garotada mais cruel. Mas esta parcela consistia em uma minoria.
Em uma turma de 40 alunos nos anos 90, por exemplo, poderia haver três ou quatro nerds estereotipados, que usavam óculos, sentavam na primeira fila e levavam lancheira com Toddyinho, mas o bullying não se restringia a este pequeno grupo. Em uma relação de mais fortes e mais fracos, especialmente na parte física, muitas crianças se tornaram vítimas em dado momento.

4. Bullying não é uma luta entre o Bem e o Mal

Psicólogos podem esclarecer isso com precisão, mas é óbvio que nem as crianças opressoras não têm maldade pura e trevas profundas no coração. Boa parte delas usa o bullying como forma de descarregar um peso emocional que pode ter razões familiares ou externas. Mas é claro que não é fácil explicar isso a uma criança que tem a cueca puxada pelos amiguinhos todo santo dia.

3. Os espectadores são piores do que os “bullies”

O velho ditado “a ocasião faz o ladrão” cabe muito bem nesse caso. O bullying só é endêmico nos grupos sociais infantis e adolescentes porque há público para aplaudir. Se todas as crianças reprovassem quando um deles jogasse areia no sanduíche do colega, o pestinha logo seria forçado a parar. Mas o bullying quase sempre é acompanhado de risadas e encorajamento do público ao redor.
E será que os adultos são muito diferentes? Quase todo mundo tem uma atração intrínseca por violência, seja no noticiário, no entretenimento ou na vida real. Quando duas pessoas se beijam, é comum virar o rosto para o outro lado; mas dois brigões costumam atrair uma plateia em torno de si em questão de segundos. Alguns alegam que isso seja parte da natureza humana. O que você acha?

2. O desejo por vingança é uma coisa ruim

O bullying depende de um desequilíbrio natural de forças. Quando uma criança oprime a outra dia após dia, é bem provável que haja uma explicação plausível para isso. Em alguns casos, pode ser recomendável para a vítima enfrentar o perigo e dar um basta na situação.
O problema é que vítimas constantes de bullying tendem a acumular raiva e sede de vingança, principalmente se não tiverem amigos com quem se abrir. Quando esse sentimento explode de uma vez só, as consequências podem ser trágicas; não são raros os casos de crianças que conseguem uma arma e promovem catástrofes. O mais aconselhável para as vítimas, portanto, é não se fechar para o mundo, e liberar a raiva em doses saudáveis.

1. Um dia o bullying acaba

Há várias formas de encerrar uma longa carreira de vítima de bullying. Em alguns casos, a puberdade trata de equivaler os opositores no quesito de força física, ou até inverter a vantagem. Em outros, os antigos opressores simplesmente amadurecem, percebem o mal que causam ao próximo e o deixam em paz.
A não ser que o sofrimento tenha sido realmente traumático, ele logo deve passar. O ideal é que as antigas vítimas não retenham nenhum tipo de rancor ou mágoas em relação a um passado tão distante; de que serviria isso, afinal? Se você encontrasse hoje, na rua, um colega que te fazia mal na 5ª série, será que teria alguma raiva guardada? É bem provável que não. [Cracked.com / Washington Post]

10 fatos profundamente deprimentes sobre bullying

        Você já se sentiu intimidado na escola? Nos Estados Unidos, as chances são de que quase todos os adultos tenham experimentado isso em algum momento da vida: cerca de 80% de todas as crianças norte-americanas contam terem sido assediadas por seus pares. Já no caso do Brasil, os números não são tão alarmantes, mas ainda são dignos de atenção.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) 2012, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 7,2% dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental afirmaram que sempre ou quase sempre se sentiram humilhados por provocações dentro da escola, e 20,8% praticaram algum tipo de bullying contra os colegas nos 30 dias anteriores a pesquisa. A grande diferença entre os números aponta que este tipo de ação é normalmente realizada em grupo, geralmente contra uma única pessoa.
Porém, o bullying moderno vai muito além de ficar chateado na escola; Vejam as razões: 

10 - Ele destrói suas futuras perspectivas de emprego
10
A velha visão da escola padrão diz que o bullying é uma “parte natural do crescimento”, algo que deixamos para trás quando nós chegamos à vida adulta e ao mundo do trabalho. Contudo, uma pesquisa sugere que não só isto é falso, mas também que sofrer bullying pode garantir que a vítima nunca sequer comece a trabalhar.
Em 2013, um grupo de pesquisadores decidiu conferir o que alguns jovens adultos que tinham sido incluídos em um estudo de bullying uma década e meia atrás estavam fazendo da vida. Em seus vinte e poucos anos, o grupo cresceu e aparentemente mudou. Entretanto, quando os médicos responsáveis pelo estudo foram um pouco mais fundo, encontraram alguns resultados chocantes. Aqueles que tinham sido vítimas de bullying no Ensino Médio eram quase duas vezes menos propensos a manter um emprego do que aqueles que não foram intimidados.
Sem nenhuma surpresa, isso teve um efeito dominó sobre as finanças das vítimas. Os indivíduos que tinham sofrido bullying eram muito mais propensos a viver em situação de pobreza e fazer más decisões financeiras. A cereja desse bolo deprimente é que eles também tendem a sofrer de problemas de saúde, levando a dívidas crescentes.

9. Danifica a sua saúde mental

9


Quantos de vocês ainda lembram dos piores momentos de sua infância? Aquele vez em que você molhou as calças quando estava velho demais ou quando foi completamente humilhado por um professor arrogante? Agora imagine ter esse sentimento em relação a toda a sua infância. Seria destruidor, certo?
Se levarmos em conta pesquisas recentes, a resposta é um sonoro “sim”. Como outra etapa do estudo que citamos anteriormente, os pesquisadores observaram os efeitos em saúde mental a longo prazo do bullying na infância. Adultos que foram intimidados na escola sofreram níveis incapacitantes de ansiedade e agorafobia, além de serem propensos a graves ataques de pânico. Enquanto isso, aqueles que responderam ao bullying tornando-se bullies também eram propensos a depressões terríveis e sentimentos de pânico. Em suma, a crueldade que tinha acontecido até 15 anos antes ainda estava causando estragos na vida das suas vítimas.

8. Pode colocar você em problemas com a lei

8


Não é nenhum segredo que o bullying às vezes foge tanto ao controle que as autoridades são chamadas para lidar com o caso. Contudo, embora possamos esperar que os valentões passem por encontros negativos com a lei, surpreendentemente, suas vítimas muitas vezes experimentam a mesma coisa.
De acordo com vários estudos, ser intimidado a longo prazo quando criança aumenta suas chances de ser preso. Um estudo estimou que quase um quarto de todas as crianças que sofrem bullying vão acabar em uma cela em algum momento.
O problema é que a infância tardia e início da adolescência são os momentos em que estamos destinados a aprender habilidades sociais e como ser parte da sociedade. Se gastarmos todo esse tempo apanhando e ouvindo ofensas, se juntar à sociedade já não parece uma conquista desejável. Crianças que são maltratadas a longo prazo se fecham. Elas se desconectam do mundo à sua volta e se tornam tristes, irritadas e amargas. Toda essa a raiva e amargura tendem a sair quando chegam à idade adulta, resultando em brigas, pequenos crimes e até mesmo algum tempo na prisão.

7. Afeta toda a economia

7


Não são apenas aqueles que foram vítimas deste tipo de intimidação que têm de viver com as consequências dela. De acordo com pesquisas recentes, o bullying afeta a todos nós, quer estejamos envolvidos ou não. Nos EUA, a violência juvenil custa à economia US$ 158 bilhões dólares a cada ano.
Este valor foi encontrado pela Plan International, uma instituição de caridade dedicada aos direitos das crianças. Eles calcularam o dinheiro público desperdiçado por crianças assustadas não indo à escola e ganhos futuros perdidos para aqueles que abandonam os estudos para escapar de seus agressores. A instituição ainda ressalta que esta é apenas uma estimativa: o número real é provavelmente muito maior. Isso significa que os Estados Unidos perdem quase o dobro do orçamento da educação federal, anualmente, para o bullying.

6. Aumenta a violência sexual

6


A maioria de nós consideraria o bullying na infância e a violência sexual na adolescência coisas completamente diferentes. Contudo, um estudo conjunto entre o Centro de Controle de Doenças e a Universidade de Illinois (ambos dos EUA) diz o contrário. De acordo com a pesquisa, há uma diversas evidências de uma relação entre violência sexual e bullying.
No estudo, foram considerados “violência sexual” atos como puxar roupas tentando expor alguma parte do corpo, assim como apalpar ou segurar genitais. Felizmente, apenas uma pequena minoria das crianças parecia sair do bullying para avançar para qualquer uma dessas coisas. Mas os pesquisadores também observaram que os problemas pioram à medida que as crianças ficam mais velhas, culminando em coisas bem mais sérias. Os valentões às vezes “transplantam” seus impulsos sexuais em suas vítimas, enquanto alguns meninos (desta vez, que foram vítimas do bullying) ficam tão assustados com a ideia de serem gays que assediam sexualmente meninas para provar sua heterossexualidade.

5. Nos torna suscetíveis ao suicídio

5


Estudos afirmam que adolescentes que sofrem com gozações são cerca de 2,5 vezes mais propensos a tentar se matar. Entretanto, o que é menos conhecido é que este risco permanece com você ao longo da vida. Em 2007, um estudo britânico descobriu que adultos que tinham sido vítimas de bullying na escola eram duas vezes mais propensos a tentar o suicídio na vida adulta.
O estudo incluiu mais de 7 mil pessoas, indo desde jovens adultos até idosos. A pesquisa foi especificamente controlada para outros fatores, como abuso sexual na infância, pais violentos e adolescentes que fugiram de casa. No entanto, os autores concluíram que o bullying por si só poderia causar um aumento significativo no risco de suicídio enquanto adultos.
Em essência, o bullying fica com você. E o que parece ser um pouco de diversão inofensiva na escola poderia, na realidade, ser uma sentença de morte a longo prazo.

4. Prejudica todos os envolvidos

4


Até agora, focamos principalmente na bagagem à qual as vítimas ficam presas ao longo da vida, porém os próprios bullies também podem sofrer.
Em quase todos os índices importantes, os valentões se saem tão mal quanto ou ainda pior do que suas vítimas. Eles são mais propensos a se envolver em comportamentos de risco, ter resultados financeiros negativos e sofrer com problemas sociais quando adultos. O único ponto em que eles vão melhor do que as suas vítimas é na saúde e, mesmo assim, o resultado é pior do que aqueles que nunca se envolveram com bullying.
Então, o que está acontecendo? Este é apenas um sintoma do clássico caso do valentão sofredor, no qual uma criança desconta sua dor interior violentando outras? Talvez. Mas estudos têm mostrado que muitas crianças normais, sem problemas sérios, também se tornam bullies. Inacreditavelmente, pode ser que o simples ato de praticar o bullying mexe com o autor da violência, tanto quanto com a vítima.

3. Nós não podemos resolvê-lo

3


Nesse momento, você deve estar se sentindo um pouco deprimido. No entanto, pelo menos há um raio de luz no final do túnel. É só colocar dinheiro suficiente em campanhas anti-bullying e tudo vai ser resolvido, certo? Bem, desculpe desapontá-lo ainda mais, mas a Universidade de Arlington (EUA) diz o contrário.
Em um estudo publicado no “Journal of Criminology”, os pesquisadores examinaram mais de 7 mil crianças em 195 escolas diferentes, com e sem programas anti-bullying. As escolas com procedimentos de prevenção ao bullying apresentavam maiores taxas de bullying do que aquelas sem. De acordo com os autores do estudo, coisas como “semana anti-bullying” não apenas despertam as crianças para o conceito de implicar com os outros, mas também involuntariamente lhes dão informações sobre como se esquivar do castigo depois.
Porém, nem toda a esperança está perdida. Os pesquisadores sugerem que programas mais sofisticados poderiam ajudar a identificar a dinâmica valentão-vítima e criar políticas de prevenção sob medida. Contudo, a não ser que um monte de pessoas estejam dispostas a dar muito dinheiro para estes projetos, eles provavelmente nunca sairão do papel.

2. Crianças recompensam os seus agressores

2


Se nós, adultos, somos impotentes para ajudar as crianças vítimas de bullying, é tentador pensar que talvez os nossos próprios filhos possam fazer a diferença. Só espere sentado: um estudo recente da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) revelou que, quanto mais praticam bullying, mais populares as crianças do ensino fundamental ficam.
Isso cria um problema enorme para os ativistas. Se as crianças associam ser um valentão a ser o mais legal da sala e resistir ao bullying com apanhar e perder seu lanche, então elas sempre vão ficar do lado dos valentões. Na verdade, apenas 2% das crianças universalmente adoradas em qualquer série e 2% de crianças universalmente desprezadas parecem imunes à necessidade de intimidar, de acordo com o estudo. Para todos os outros, agir como um idiota total é uma fórmula garantida de escada social.

1. É da natureza humana

1


Toda sociedade na história da humanidade teve valentões, de uma forma ou de outra. Se você quer colocar a culpa em algo, não precisa ir além da evolução.
O bullying existe em todo o reino animal e, em primatas, tem uma função muito específica. Os chimpanzés ou macacos que não conseguem obedecer a uma dinâmica de grupo podem colocar em perigo todos à sua volta – ou pelo menos tornar o grupo menos eficaz em sobreviver. Então, um pouco de bullying pode manter os primatas rebeldes na linha.
Os seres humanos não precisam mais da estrita conformidade e total cooperação para sobreviver, mas a nossa vontade de zoar os outros permanece. A coisa toda é nada mais do que um retrocesso, um apêndice séptico envenenando todo o corpo da humanidade. E nós estamos presos a ele. [ListverseVejaIBGE]

sexta-feira, 18 de maio de 2012

EDUCAÇÃO SEXUAL - ALVOS DO HIV

EDUCAÇÃO SEXUAL - ALVOS DO HIV

 - Trinta anos após a descoberta do vírus, os jovens são o grupo com maior tendência de crescimento da Aids
- Exposição sexual é o principal fator de contaminação de jovens entre 13 e os 24 anos
  -“Informação não é suficiente para os adolescentes se previnam em situações de risco.”
- Inversão. A contaminação de meninas superou a de meninos a partir de 1998: são 10 casos entre elas para cada 8 deles.

Mas tem tratamento!” Não é incomum ouvir a frase ao falar a adolescentes sobre Aids no trabalho de prevenção. Graças aos avanços, às pesquisas e à descoberta dos medicamentos em 1992, convivemos com o HIV há três décadas. Mudanças de conceito e na transmissão de informação são pontos marcantes nesses 30 anos. Mas cabe ao educador questionar: o que não é dito a esses jovens?

Se a primeira década foi marcada por terrorismo e medo, já que se desconhecia o agente causador da doença, hoje presenciamos o aumento da qualidade da informação, constatada pelas pesquisas de conhecimento, atitudes e práticas realizadas pelo Programa Nacional de DST/Aids no Brasil. Graças aos avanços desde 1992, com a descoberta dos medicamentos antirretrovirais (que impedem a multiplicação do vírus no organismo), o acesso universal ao coquetel reposicionou a Aids como uma doença crônica com tratamento possível, rigoroso e delicado. Não se trata mais de uma sentença de morte. Ou seja, esta geração de adolescentes veio ao mundo quando o enfrentamento da epidemia tinha novas perspectivas e teve amplo acesso à informação, por meio de campanhas de mídia, articulações em saúde e educação.

Por outro lado, o Ministério da Saúde dá conta de que, em cinco anos, a prevalência do vírus HIV em meninos entre 17 e 20 anos subiu de 0,09% para 0,12% – o porcentual sobe quanto menor for a escolaridade. De 1980 até junho de 2010, 11,3% dos casos no País foram de jovens na faixa dos 13 aos 24 anos. Não só: a maior proporção de ocorrências está relacionada à expoxição sexual. Diante desse quadro, como os jovens lidam com o sexo seguro e com a Aids?


Exposição sexual é o principal fator de contaminação de jovens entre os 13 e os 24 anos. Foto:Latinstock

O que os jovens sabem

Em levantamento recente realizado pelo Centro de Estudos da Sexualidade Humana do Instituto Kaplan, 97% dos 1.149 adolescentes demonstraram ter informações sobre a Aids, o que não impediu que, na hora de tomar decisões diante de situações hipotéticas, 37% dessem respostas que indicassem uma conduta de vulnerabilidade (explica-se o conceito a seguir). Ademais, a Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas da População Brasileira (PCAP 2008) constatou que 97% dos brasileiros entre os 15 e os 24 anos sabem que o preservativo é o método mais efetivo no combate à transmissão do vírus, mas seu uso tende a cair quanto mais estável for o relacionamento sexual.

É notável que apenas a informação não é suficiente para que os jovens utilizem o preservativo. Também é preciso motivá-los a lançar mão desses conhecimentos e enfrentar situações de risco. É nesse aspecto que a influência do educador pode fazer a diferença. Na mesma sondagem do Instituto Kaplan, a escola foi destacada por 84% dos entrevistados como o principal espaço para a busca de conhecimento sobre DST/Aids, o que mostra que o professor tem papel essencial na educação sexual.

O que fazer diante de uma oportunidade dessas? Os programas de educação pregam aliar informação a valores, atitudes e condutas que fortaleçam a prevenção e diminuam a vulnerabilidade. Para ficar em um exemplo baseado em pesquisas: percebe-se que, diante da afirmação “Mas Aids- tem tratamento!”, nem sempre o professor- esclarece o que vem com o pacote “tratamento”, polemiza, discute como seria o momento posterior a ele ou ressalta o mais grave: que a ainda não há cura. Esse é um típico momento para retirar do próprio adolescente o fragmento de conhecimento que ele apresentar e construir em conjunto uma informação que dê subsídios, de maneira clara e direta, para o entendimento dos reais impactos de uma doença como a Aids ou da convivência com o HIV.

Uso da camisinha – Em %
Faixa etária
Já tiveram relações sexuais
Uso do preservativo na última relação sexual
13 a 15 anos
24
76
15 a 18 anos
51
74
Fonte: Instituto Kaplan - Maio 2012



Vulnerabilidade juvenil

O conceito de vulnerabilidade identifica os fatores que influenciam a não prevenção nas relações sexuais. Questões como a dificuldade de negociar o uso do preservativo, a vergonha, o medo de falhar, o desconhecimento, a diminuição da autoestima, a ausência de cuidado consigo e o envolvimento emocional fazem parte do -repertório de fatores que podem agir na contramão do uso do preservativo.

Muito se discute a respeito da vulnerabilidade dos alunos de Ensino Médio em relação à gravidez na adolescência e à infecção pelo HIV. No Brasil, 20,42% dos partos são de adolescentes, de acordo com o Ministério da Saúde. Em relação ao contágio pelo vírus, segundo dados de 2009, a porcentagem de jovens do sexo masculino infectada salta de 2,4%, na faixa dos 14 a 19 anos, para 18,1%, entre os que têm de 20 a 24 anos. Entre as garotas, os números vão de 3,1% para 13,4%, na comparação entre as faixas etárias de 13 a 19 e de 20 a 24 anos.

Especialmente a vulnerabilidade das garotas à Aids preocupa e faz parte das ações de enfrentamento da epidemia no Brasil. No mais recente Boletim Nacional de DST/Aids, elas foram destacadas como o público que teve crescimento no número de casos em relação às demais populações, que tem apresentado decréscimo. Segundo o relatório, a inversão se deu a partir de 1998 e é esta a única faixa etária em que há mais ocorrências entre mulheres do que em homens: oito casos em meninos para cada dez em meninas. Em ambos os sexos, dos 13 aos 24 anos, a contaminação está atribuída à categoria de exposição sexual, sendo 74% no sexo masculino e 94% no sexo feminino. Órgãos como Unaids- e Unesco reconhecem que o adolescente se encontra em posição vulnerável e que é necessário a implantação nas escolas de programas de educação sexual que favoreçam o acesso integral a informações.

Educação sexual

Cerca de 30,5% dos alunos de 9o ano já tiveram relações sexuais segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do escolar (2009) e estima-se que, ao fim do Ensino Médio, de 70% a 80% exercite sua vida sexual. O repertório sexual dos adolescentes é amplo atualmente. Eles se permitem investigar e -descobrir formas de contato íntimo para lidar com interdições como a virgindade, e, assim, se relacionam de outras muitas maneiras que podem torná-los vulneráveis.

Um exemplo é o sexo oral e a crença de que não expõe a DST. O número de dúvidas sobre a prática cresceu nos últimos anos, assim como os casos de HPV e herpes, mas as aulas de orientação sexual a respeito das DST não acompanharam essa evolução, e continuam mostrando imagens horrorosas de estágios avançados de doenças. Na nova perspectiva de formação de competências para a vida não podemos segregar a educação sobre HIV/Aids, um aprendizado que envolve a participação juvenil, o pensamento crítico e a experiência.

Isso posto, é preciso buscar metodologias para inserir a educação sexual, de maneira lúdica e dirigida, atendendo às perspectivas do aluno e fornecendo ferramentas para que ele associe o uso do preservativo ao exercício do prazer. A escola deve estar preparada para uma abordagem integral da sexualidade. Apesar de citada inclusive em guias e diretrizes como os PCN, ainda é difícil expandir na prática a intervenção para além das exposições chatíssimas sobre órgãos reprodutores. Percebe-se, em oficinas que envolvem práticas sexuais, que o prazer e o reconhecimento da vulnerabilidade no cotidiano atraem maior interesse e têm mais impacto nos grupos do Ensino Médio.

Deve-se, então, trabalhar três pilares: conhecimento, atitudes e competências, auxiliando a tomada de decisão diante das condutas de prevenção. É uma tarefa que soa complicada, ainda mais se lembrarmos que, na história da sexualidade, já tivemos tantas associações com a reprodução e que as práticas sexuais sempre foram deixadas de lado, como se não se pudesse abordar a intimidade e as dificuldades que envolvem a vida sexual. Há alguns anos, com o reconhecimento dos 11 direitos sexuais e reprodutivos como direitos humanos – destacando o direito ao prazer – começamos a entender que a estratégia funciona bem como motivadora.

Os adolescentes estão expostos a muitas informações parciais, por vezes tendenciosas ou contestáveis, e o acesso a uma educação sexual clara e baseada nos direitos humanos é fundamental na luta contra o preconceito e para assegurar ao jovem seu papel de sujeito de escolha – esse é o lugar do educador. Trabalhar o cotidiano das práticas sexuais facilita o reconhecimento das situações de vulnerabilidade e promove troca de conhecimento, podendo ampliar o número de respostas de enfrentamento e novas condutas – como o uso do preservativo em todas as relações.

Muitos educadores têm dúvidas sobre dizer ou não ao jovem que o HIV/Aids encontra-se hoje na classe de doenças crônicas porque temem autorizar, assim, a disseminação do vírus e a ausência do cuidado. A omissão relega ao adolescente o antigo papel de “irresponsável”, no qual ele não teria recursos para decidir sozinho. Quanto mais saudável e responsável for o exercício da sexualidade, mais estaremos evoluindo em qualidade de vida da população e em cidadania. O fortalecimento do adolescente como sujeito de direito à saúde e à educação integral, entendendo que sexo e prazer são constitutivos positivos desse processo, auxilia a motivação para a prevenção.


A Aids no Brasil - Taxa de detecção
(por 10 mil háb.) Segundo faixa etária e sexo – 2009
Faixa etária
Feminino
Masculino
+ 60
6,4
10,8
50 a 59
19,3
31,1
40 a 49
28
52,4
35 a 39
35,5
58,4
30 a 34
31,3
54,2
25 a 29
28,3
39
20 a 24
13,4
18,1
13 a 19
3,1
2,4
05 a 12
1,4
1
< 5 anos
3,2
2,8

Fonte: boletim Epidemiologico Aids e DST ano VII nº 01



As fontes dos jovens sobre Aids/DST – Em %
Escola com o professor
84
TV/ Revista
16
Em casa com os pais
11
Internet
9
UBS (Unid. Básica de Saúde)
6
Amigos
4
Palestras
4
Amigos
4
Fonte: Instituto Kaplan

Por Camila Guastaferro é psicóloga e educadora sexual, coordenadora de desenvolvimento institucional do Centro de Estudos da Sexualidade Humana – Instituto Kaplan.

Fonte: Revista Carta na Escola – Agosto de 2011, pag. 42 a 44.  


DROGADIÇÃO: Duas drogas que mais ameaçam mais a nossa saúde

Veja quais são as duas drogas que mais ameaçam a saúde humana Uma revisão científica publicada na revista Addiction compilou os ...